Nesta entrada, mostramos como a utilização da inversão nos permite determinar um lugar geométrico. A ilustração é muito dinâmica e podia ter-se ficado pela observação dos traçados ou pela apresentação do lugar geométrico que o Cinderella (ou outro programa de geometria dinâmica nos fornece). Mas o recurso à inversão é inestimável para compreender melhor e para desvendar procedimentos de construção e demonstração.
Enunciemos:
Os lados azuis de um ângulo dado de vértice O fixo, em torno do qual rodam, são cortados por uma reta azul em A e B. Para cada posição dp ângulo AÔB, há um triângulo e a respetiva circunferência circunscrita definida por A,O, B. Qual será a envolvente da infinidade das circunferências OAB obtidas quando o ângulo roda em torno do seu vértice O?
Na nossa construção, partimos de um ângulo de amplitude fixa, vértice O e lados azuis que cortam a reta r (outro azul) em A e B.
Para cada reta r e cada posição do ângulo de duas retas (amplitude \alpha ou \pi-\alpha) há um triângulo único OAB e logo uma única circunferência circunscrita desenhada a cinza na figura. Quando o ângulo roda em torno de O, A e B percorrem a reta r e criando desse modo uma infinidade de circunferências circunscritas. Sera que podemos determinar a envolvente dessa infinidade de circuncírculos?
- A inversão relativamente a uma circunferência de centro O e raio OH, I(O, OH^2), é a ajuda que precisamos para passarmos do circuncírculo OAB para uma reta a passar pelos pontos de interseção do círculo de inversão a vermelho como o circuncírculo. O circuncírculo passa pelo centro de inversão (e a sua imagem é uma reta), passa por A e B (e a sua inversa passa por A' e B'.
- A inversa da reta r=AB que passa por H, ponto da circunferência de inversão, é uma circunferência que passa pelo centro O de inversão, por H=H', por A' e por B'. O seu centro é o ponto médio de OH Lembremos que, para cada reta r, OH é independente da rotação do ângulo em torno de O, como o é a circunferência de centro O e raio OH.
- As cordas A'B' da circunferência de centro O e raio OH são iguais por corresponderem a ângulos ao centro e arcos iguais correspondentes ao nosso ângulo O inscrito na circunferência inversa de r. Os pontos médios destas cordas na circunferência de diâmetro AH são pontos de uma circunferência concêntrica, desenhada na figura, que é a envolvente destas cordas A'B'.
- Esta circunferência que tem centro no ponto médio de OH e toca a corda a A'B' é a envolvente da inversa do circuncírculo. Assim, a correspondente desta, pela mesma inversão I(O, OH^2), tocará o circuncírculo nos correspondentes aos pontos médios das cordas A'B'. E sabemos que a inversa de uma circunferência que não passa pelo centro de inversão é uma circunferência. Está provado que a envolvente dos circuncírculos é uma circunferência. Que circunferência? Quanto mede o seu raio? Onde está o seu centro?
- Claro que o centro da envolvente dos circuncírculos estará sobre a reta OH. Para o resto, bastará considerar uma tangente à circunferência envolvente de A'B', tirada por O, centro de inversão. Chamemos T ao ponto de tangência. Pela inversão I(O, OH^2), a T corresponderá um ponto T' de tangência da circunferência envolvente dos circuncírculos. E OT \times OT' = OH^2.
- OT corta a circunferência inversa de r numa posição de A', que designamos por P', correspondente a uma posição A sobre a reta r, que designamos por P. Sabemos, por isso, que OP'= 2.OT.
OH^2=OP\times OP' = OP \times 2.OT = OT\times OT'
de onde se conclui que
OT'=2\times OP.
Podemos assim determinar sobre a reta que passa por O, T, P´, P o ponto T' de tangência da tangente tirada por O à inversa da envolvente de A'B'. O centro desta circunferência, envolvente dos circuncírculos, está na interseção da reta OH com a perpendicular a OT tirada por T'.
Ficou assim determinada a envolvente aos circuncírculos OAB. \hspace{1cm} \square
Caronnet, Th. Éxércices de Géométrie Vuibert. Paris:1946
Howard Eves, Fundamentals of Modern Elementary Geometry . Jones and Bartlett Pub. Boston:1992
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